Por trás de muitas metas não cumpridas, reuniões inócuas e times desmotivados, há um inimigo silencioso: o orgulho institucionalizado. Não aquele saudável de quem se orgulha do que faz, mas o orgulho defensivo, que constrói muralhas invisíveis entre líderes e liderados, entre pares, entre áreas, e até mesmo entre o colaborador e seu próprio bem-estar.
É esse orgulho tóxico — travestido de “autoridade”, “autoafirmação” ou “cultura forte” — que impede conversas francas, retranca aprendizados, bloqueia a inovação e corrói, em silêncio, a saúde mental nas empresas.
Liderança tóxica: o orgulho como armadura
Muitas vezes, o líder que mais cobra resultado é aquele que menos sabe ouvir. Quando o comando é vertical e inflexível, o time não se sente seguro para expor erros, sugerir melhorias ou simplesmente dizer: “não estou bem”.
Esse é o retrato clássico da liderança tóxica: o gestor que acredita que ceder é fraqueza. Que dialogar é perder o controle. Que admitir um erro é arranhar a imagem. O orgulho, nesse caso, vira uma armadura — pesada, sufocante e que distancia.
Mas como toda muralha, essa também tem um custo: turnover, burnout, presenteísmo crônico (aquele colaborador que aparece, mas não se entrega), processos trabalhistas, clima organizacional tóxico e, claro, reputação manchada no mercado.
O presenteísmo: orgulho do colaborador ou sintoma da cultura?
Nem só os líderes adoecem. Do lado de quem executa, muitas vezes o orgulho se disfarça de “resiliência”: “vou aguentar”, “não vou me expor”, “não vou pedir ajuda”. Mas por trás do silêncio, há sobrecarga, exaustão emocional e um afastamento progressivo da empresa e de si mesmo.
O presenteísmo, assim, é mais do que falta de engajamento. É um pedido de socorro não dito. É o reflexo de ambientes em que vulnerabilidade é confundida com fraqueza, e empatia com perda de performance.
Quando ninguém quer parecer fraco, ninguém cresce de verdade.
ESG: ou você muda por propósito, ou mudará por dor
A agenda ESG — sigla para Environmental, Social and Governance — não é apenas uma pauta ambiental ou de compliance. É uma virada de chave no modelo econômico. Prosperar com propósito é o novo norte.
Negócios que colocam o lucro acima de tudo talvez até sobrevivam por um tempo, mas não construirão legado — e não resistirão à nova cultura de consumo, à pressão dos talentos por ambientes saudáveis e às exigências regulatórias.
E aqui está o ponto crucial:
Se a mudança não vier por consciência, ela virá por pressão. Se não for pelo amor à transformação, será pela dor da multa, da denúncia, da reclamação trabalhista ou da mancha na reputação.
Organizações conscientes já entenderam: o orgulho não cabe mais nos conselhos de administração.
A nova liderança: ponte em vez de muralha
A boa notícia? O orgulho é superável. E ele não precisa ser anulado — apenas reposicionado.
Líderes humanos, que reconhecem suas limitações, criam ambientes seguros. E ambientes seguros produzem engajamento genuíno, inovação espontânea e resultados sustentáveis.
Essa nova liderança:
- Dá o primeiro passo no diálogo difícil.
- Assume seus erros com maturidade.
- Cria pontes entre áreas, pessoas e culturas.
- E não tem medo de dizer “não sei” — porque sabe que liderar é, antes de tudo, aprender.
Conclusão: orgulho que protege ou que paralisa?
Toda empresa tem um pouco de orgulho em sua cultura. A pergunta é: esse orgulho está protegendo valores saudáveis ou escondendo inseguranças disfuncionais?
Chegou a hora de revisitar essa conversa — com coragem, com empatia e com estratégia. Porque a cultura que você cultiva internamente é a imagem que você projeta externamente.
E, no fim das contas, como costumo dizer em sessões de consultoria:
A cultura da humildade não é bonitinha. É inteligente. É ela que sustenta a inovação, o engajamento e a longevidade do negócio.

