Estamos vivendo a era da Inteligência Artificial — e com ela, muitas empresas decidiram acelerar a substituição de pessoas por algoritmos. O discurso é sedutor: mais eficiência, menos custo, mais escalabilidade. Mas há um ponto que não pode ser ignorado: quem vai consumir o que essas empresas produzem, se ninguém mais tiver emprego?
O Alerta de 1929: Produzir Muito e Incluir Pouco
A crise de 1929, também conhecida como a Grande Depressão, começou com o colapso da Bolsa de Valores de Nova York. Mas o estopim real foi a quebra do equilíbrio entre produção e consumo. As indústrias americanas estavam produzindo em ritmo acelerado, impulsionadas pela inovação e pelo crédito barato. Mas boa parte da população não acompanhava esse ritmo — salários baixos, desemprego em crescimento, e uma desigualdade crescente geraram estoques encalhados, falências e uma espiral de desemprego que durou anos e atingiu o mundo todo.
Hoje, quase 100 anos depois, corremos o risco de repetir o erro, mas com outra roupagem. A Inteligência Artificial tem sido usada por algumas empresas como atalho para cortar custos substituindo pessoas — sem garantir alternativas de requalificação ou inserção. O resultado? Um possível colapso no poder de compra da população, descompasso entre oferta e demanda, e um risco sistêmico real para a economia global.
Lucro é Meio, Não Fim
Empresas existem para cumprir um propósito. O lucro é consequência de fazer isso com excelência. Quando o lucro vira o único objetivo, a empresa se desconecta da sua própria razão de existir — e perde mais do que valor de mercado: perde relevância social.
A verdadeira inovação não está apenas na tecnologia, mas na capacidade de usá-la com consciência, responsabilidade e visão de longo prazo.
ESG Não É Modismo
A agenda ESG tem ganhado força e, dentro dela, o “S” — de Social — é muitas vezes o mais fácil de aplicar e, paradoxalmente, o mais negligenciado. Investir em pessoas, formar talentos, abrir oportunidades para quem está à margem do mercado de trabalho… não é caridade: é estratégia. É garantir sustentabilidade econômica, reputacional e humana.
IA com Ética É IA com Futuro
A IA pode sim melhorar processos, reduzir custos e aumentar a produtividade. Mas precisa vir acompanhada de requalificação, inclusão e compromisso social. A tecnologia deve ser ponte, não abismo.
Conclusão
Empregar não é só pagar salário. É ativar uma rede de consumo, cidadania e progresso. É investir em famílias, em comunidades, em estabilidade. Empresas que entendem isso não apenas sobrevivem — elas lideram.
Porque no fim, a conta sempre chega. Pode vir do contador, do mercado… ou da própria sociedade. A escolha é nossa.